1. SOBRE KÁTIA, SUA FAMÍLIA, SUA ORIGEM

 

– Meus pais são de Minas Gerais. Tenho a honra de descender dos dois mais importantes segmentos da formação histórica de Castelo. Ou seja: dos avós maternos imigrantes italianos (Paresqui) e do lado paterno, dos índios Coroados Puri.

Tive quatro irmãs. Ser enfermeira era o sonho de uma delas, não o meu. Mas em Castelo só havia Curso Normal. Não queria ser professora, preferi não continuar estudando. Resumindo: minha irmã mais velha havia se mudado para o Rio de Janeiro. Fui visitá-la e os parentes de lá me desafiaram a passar no vestibular da Escola Ana Nery (antiga Universidade do Brasil, atual UFRJ), famoso por seu rigor, cujas inscrições estavam abertas. Com a autoconfiança de quem sempre se dera bem nos estudos, aceitei o desafio e fui aprovada.

Muito pobres que sempre fomos, era uma oportunidade dita imperdível. Fiquei num rigorosíssimo internato por quatro anos, num curso mais que intensivo, pois além do enorme currículo, complementava matérias do curso Científico. Tínhamos apenas quinze dias de férias por ano. Mais tarde, duas de minhas irmãs também se formaram em Enfermagem. Florence Nightingale agradece.

 

  1. A IDA PARA O RIO E A SAUDADE

 

Em 1957, há sessenta anos. Não houve um só dia nesse tempo que eu não sofresse pela ausência de Castelo. Um só dia em que eu, semelhantemente, não sofresse a salmodiada dor do povo judeu às margens dos rios da Babilônia. Também pendurei minha harpa nos salgueiros e cantei meus cânticos em terra estranha.

A cidade seria a figura representativa da família distante e da infância, ao mesmo tempo pobre e mágica, conforme mostram os poemas da primeira parte do livro.

 

  1. VISITAS A CASTELO

 

A partir de 1998, passei a vir anualmente, para o Corpus Christi, ajudando nos tapetes da Equipe do Miro e da minha amiga Romilda Campanha.

 

  1. A EMOÇÃO DE VER E ESTAR NA CIDADE NATAL

 

Vou usar a matemática de Jesus respondendo a Pedro: não apenas me emociono diante das sete, mas das setenta vezes sete maravilhas de Castelo. Com destaque para a Praça, o rio e o cheiro da cidade.

 

  1. A CONSTRUÇÃO DO LIVRO CASTELÃ

 

Já havia publicado todos os meus livros anteriores quando, em 1984, tive um surto máximo desse sentimento de exílio de que venho falando. Paroxístico. Pura catarse.

Varei uma madrugada escrevendo poemas dolorosos, sendo que o da página 99 foi o que, de fato, me derrubou. Como quando o assaltante chega e diz: PERDEU!

Eu perdi: naquela madrugada me caiu a ficha completa de ser uma castelã em andrajos, longe de casa para sempre, com as sandálias presas, não mais na lama e sim no asfalto cruel, com os olhos molhados de lágrimas e afogados na água de um mar que venceu o rio.

Meu marido, que era psicanalista e também poeta, tentava me ajudar, mas Freud não conseguiu. Fazendo as contas, são trinta e três anos de escrita esparsa.

Como você sabe, uma coisa é escrever os poemas soltos. Outra bem diferente é organizá-los sob um determinado título para que exista uma unidade em sua leitura. Na verdade, considero esta parte um dos grandes desafios do poeta.

 

  1. DO AMOR PELOS BICHOS

 

Aos 3 anos de idade vivenciei uma experiência incrível sobre um bezerro que caiu de um barranco. Ouvi um estranho rumor na manhã, acendi meus sentidos e comecei a chorar alto. Pensaram que alguma coisa estivesse acontecendo comigo, quando TODOS ouvimos o berro do bezerro. Ou seja: antes do berro tive o pressentimento. Fiz um poema sobre isto. É um dos meus poemas que mais gosto. Então, antes da racionalidade, já me comovia com o sofrimento dos animais.

Em 1978, passei a participar ativamente de movimentos e campanhas em favor da Natureza em geral, a dos bichos em especial. A Arte Postal servia muitíssimo bem a esse propósito. As mensagens solidárias cruzavam as redes aéreas nacionais e internacionais. Muita solidariedade. Mas também trabalhava no lado prático. Fiz parte de uma equipe, onde morava. Cada pessoa exercia seu dom para ajudar animais abandonados ou acidentados. Desde o atendimento médico até a busca de pessoas para adoção.

Com a venda do meu livro Castelã pretendo beneficiar um grupo castelense chamado Patinhas Carentes. Também penso escrever uma carta ao Prefeito reiterando pedido de políticas de socorro a Instituições que cuidam desses assuntos na minha cidade.

 

  1. SOBRE A MOTIVAÇÃO PARA ESCREVER POESIA

 

Quando um assunto motiva minha sensibilidade e tento transformá-lo em poema, faço-o com e pelo amor à palavra, à escrita e à linguagem. Por humanismo e estética.

 

  1. O COTIDIANO POLITICO/ECONÔMICO NA VIDA DE UMA POETA

 

Sempre tive consciência política. Mas não escrevo poemas desfraldando bandeiras.

Faço a minha parte, cumpro meu ofício, lutando no branco da página.

 

 

  1. LIVROS PUBLICADOS:

 

Já publiquei 7 livros de poesia e um de ficção.

Os títulos: O Azul das Montanhas ao Longe, Principalmente ETC, Romanceiro de Amuia, Contrafala, O Jogo da Velha, Bichuim, Avante Xavante e Castelã.

 

  1. LIVROS INÉDITOS:

 

Meus inéditos já organizados são: Lavratura, Felino Felino, Padaria Porta da Lua e Vinhetas Tipográficas.

Não creio que nenhum desses saia da minha gaveta. Não possuo a maioria das qualificações utilizadas para um autor se apresentar em letra de forma impressa. A atual publicação se deve sobretudo a Sandra Medeiros, da Flumen Edições, que já havia me publicado na sua consagrada revista ÍMÃ. Há muito tempo conhecendo meu trabalho, acreditou nele a ponto de me honrar com a presente edição.

 

Novembro, 2017

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