ESSES GALOS QUE NÃO COZINHAM!

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Na roça, momentos de encontros entre amigos é algo certo de acontecer. Sempre com bastante comida rústica:  Galinha caipira do nosso quintal, polenta com queijo da roça, um molho a bolonhesa e agora salada com as folhas da nossa horta.

 Meu marido adora criar galinhas, galinholas e garnisés . Elas são lindas, com plumagens das mais diversas!

Num final de semana desses resolvemos preparar uns galos no fogão a lenha. O ritual começou logo cedo, por volta das oito da matina. E lá se foram galos degolados,   depenados e retalhados. Lenhas, tacho , panela de ferro , tudo a postos para cozer os galos!

Os homens foram preparar o almoço, e o fogão a lenha estava fumegando com lenhas crepitando. Decidimos que não havia necessidade de pré- cozinhar os galos na panela de pressão, pois não tínhamos pressa . Estava valendo a convivência , os tira- gostos e bebericando fomos passando o dia.

Meio dia os frangos foram refogados, e lá estava nosso primo cozinhando, e suando em bicas diante àquele fogão a lenha. Ficamos a observar os galos, provavelmente por volta das quatorze e trinta, teríamos pronto o nosso guisado.

E os ponteiros do relógio apontavam para 15:00 horas , 16:00, 17:00, 18:00hs e nada de carne macia! Nunca pensei que tão demorado assim, fosse o cozimento de um galo. Agora sim entendo perfeitamente o ditado “ vamos cozinhando o galo” quando queremos uma  situação postergada .

Enquanto o frango cozinhava ,o primo de meu marido ia contando seus causos. Adorei ouvir dele , o quanto ele gostava do dia em que matavam o porco quando criança! Todo aquele ritual! Ele corria atrás do porco, puxava o coitado pelo rabo, que gritava  adoidado! Ele assistia impassível a derrocada do leitão!  Acompanhava toda aquela festa, da matança do bicho ao retalhar das partes, Da carne no fogo, à preparação do chouriço…

 Depois lhe sobrava a incumbência de distribuir carne  para os vizinhos que ajudaram a engordar ou a matar o pobre do leitão! Pode parecer sádico tanta saudade de um dia, a meu ver, tão macabro!!

Mas era um dia de festa! Um dia de fartura! Um dia de reunião familiar! Certamente muitas risadas , muitas piadas,  momentos que ficaram cravados em sua memória!

Enfim por volta das dezenove horas decidimos comer os galos . Creio que a paciência ou a fome começou apertar, pois a carne ainda precisava de algumas horas para ficar mais tenra. Ficou  delicioso, bem temperado, aquele caldinho com a polenta, humm, perfeito!

Aliás é sobre isso que eu  queria falar: Perfeição! Quem disse que para ser bom tem que ser perfeito! Esse dia do galo, por exemplo, foi imperfeitamente perfeito! Ninguém se  estressou com a demora, muito pelo contrário , rimos muito!

Disseram que foram convidados a cozinhar galos e não urubus, dizem que carne de urubu não cozinha nem por reza! Será que alguém já comeu um? 

Outros disseram que os galos eram da época em que meu falecido  sogro era   criança!!

Enfim , esse dia ficou para ser lembrado na posteridade, o dia em que os galos ficaram sete horas no fogo e ainda assim não estavam no ponto!

O dia em que podemos dizer que não precisa ser perfeito para ser bom! Bom mesmo é ser feito com carinho! Bom mesmo é estar ao lado de pessoas especiais!!

Marluce Peisino.