“Padre Jão”

 Um sacerdote sério, amigo e que pregava sorrindo.

 

Sorriso farto, acolhedor. Hábitos simples e dedicado à causa do irmão. Íntegro, sensato, evangelizador do bem. Assim era nosso Mestre, Pai e Irmão Frei Juan Echávarri Asiáin, nascido em 07 de setembro de 1919 e falecido em 23 de janeiro de 2011.

Conselheiro, era procurado por todos para resolução de problemas de ordem familiar, social e comunitária. Tinha sempre a palavra certa nas horas difíceis. Íntegro, mantinha um comportamento reto. Trabalhava diuturnamente: bem cedo se levantava e administrava a Fazenda do Centro; zelava pela vida dos paroquianos e alunos noviços.  Quem não se lembra do Padre Jão, vestido de batina preta, sentado à Capela, atendendo aos fiéis que chegavam, alegremente?

Tivemos o privilegio de nascer e crescer ao seu lado. O padre espanhol que escolheu viver e trabalhar ao lado dos camponeses, filhos de imigrantes e africanos descendentes – Identidade Completa!

Defendia a Justiça Social. Fundou escolas, ensino filosófico e religioso. Trouxe o ginásio à Fazenda do Centro. Hoje o educandário recebe o seu nome, justa homenagem. Manifestava-se sempre feliz nas suas celebrações, espaço para as crianças, – seu grande amor, fundou a Cruzada Eucarística, o futebol; torcia pelo Olaria F.C., tendo formado uma equipe na Fazenda do Centro com o estádio Bariri. Às quintas-feiras costumava brincar de boccia, “bola de pau”, com os amigos da região. Orações, educação e laser, tudo realizado com profundo amor. Construiu lindas histórias: suas celebrações atraíam centenas de pessoas nas festas de São Sebastião, Semana Santa… Ah! a de  Domingo de Páscoa era lindíssima, todos em procissão, às cinco da manhã, com a vela nas mãos… as de maio, dedicadas a Maria; as filhas de Maria eram personalidades ímpares: lindas com suas fitas verdes e  ou azuis… Corpus Christi, altares enfeitados… festas de Santo Agostinho, padroeiro; Santa Cruz, esta, promessa para afastar as doenças dos animais, e outras belíssimas atraíam fiéis de todas as regiões do Município. Padre Jão era acompanhado pelos companheiros Agostinianos Frei Luiz, Frei Jesus, Frei Alaor e muitos outros que deixaram seu legado sagrado em nossa terra. Nossos pais se lembram de quando subiam as montanhas até as comunidades mais distantes, a cavalo, para realizar bodas, missas, batizados, extrema unção e outros ritos, com profunda devoção. Logo depois, ganhou dos fiéis o Jeep 51 e, então, pode dar assistências às comunidades com menos sacrifício, se bem que nunca reclamou. Essa expressão Ele desconhecia. Após as celebrações a conversa saudável em frente à Capela, a chuva de balas para a criançada que o rodeava para brincar. Nos leilões – Quem não se lembra? Arrematava pencas de mexericas para distribuir a todos. Gesto que educava enquanto se divertia. Diversão, sim, um homem de atitudes sérias, mas que as cumpria sorrindo. Era ele feliz! Cumpria a sua missão: unindo os fiéis pela fé e aproximando-os. Sua pregação estava em todas as suas atitudes, também após a missa, nas reuniões de apostolado e outras ou nos cafés que servia no Casarão, às crianças, seus pequeninos discípulos que cantavam sob a sua maestria. Todas as famílias moradoras viviam de forma fraterna, se respeitando, mutuamente. Todas, do Forno Grande ao Corumbá, São Cristóvão, Apeninos, São Pedro a Monte Alverne, São Manoel, Venda Nova, Conceição do Castelo a Castelo participavam da vida religiosa e comunitária da Fazenda do Centro.

Fazenda do Centro, centro dos acontecimentos políticos, sociais, culturais e religiosos. Logo após o assentamento das famílias de imigrantes, em 1909, foi fundado o pólo comercial e social; sistema cooperativista que prosperou trazendo desenvolvimento à região.

Frei Jão, Príncipe da Paz! Mestre, Pai e Irmão. Um homem simples, de palavras simples que se fazia entender. Dizia que para viver não existe segredo, basta ser bom, humilde e tudo fazer com honestidade. Ser bom e amar ao próximo, isso nos ensinou. Frei Chico, provincial da ordem, seu ex-aluno, declarou: puxava a orelha e todos saíam contentes. Em tudo o que fez realizou com amor, respeito, dignidade e fé. A Padre Jão, santo padre, nossa saudade. Personagem inigualável de nossa história. Patrimônio Cultural enraizado em nossa vida. Disse recentemente: “_ Meu coração está aqui dentro desta Capela!” E seu último pedido: ser sepultado na Fazenda do Centro. Conhecê-lo: honra! Viver ao seu lado: bênção! E tê-lo descansando junto aos nossos avós, pais e irmãos: conforto! Obrigada, Deus! Por receber aquele que em vida se doou completamente aos seus.

Farol que conduziu nossos passos. Espelho de virtudes, que orientava e educava através do Evangelho e das ciências de forma humilde e franca. Nunca tinha expressões de ordem que levasse a conflitos interiores ou coletivos, mas palavras sensatas, carinhosas que traziam entendimentos. Educador exigia disciplina, mas com mãos e coração de Pai.  O mais importante para si e para a igreja era que os fiéis estivessem felizes e esclarecidos. “A Educação precisa ser realizada com amor”, dizia. Esse amor, canalizado para todas as direções, foi o sentimento mais presente em tudo o que realizou e expressou. Uma senhora exclamou em sua despedida: “É como se estivéssemos sepultando Jesus Christo, porque, para nós, Ele foi Jesus Christo.”

Desde que chegou à Fazenda do Centro, em 1946, onde viveu por quase quarenta anos, Frei Jão usou de toda a sua sabedoria para tornar a região um notável empreendimento social, econômico, cultural e religioso. Desta forma, podemos afirmar que o padre otimista, muitas vezes humorista, que utilizava frases e reflexões que levavam os fiéis às gargalhadas, não morrerá jamais. Durante o seu adeus, choramos porque entendemos que também sepultaríamos parte de nós. Assim é a vida. Que a sua mensagem permaneça e esteja presente em nossos passos e em nossos atos. Sócio benemérito do Instituto Frei Manuel Simón, compreendeu a iniciativa e a aplaudiu. Despediu-se feliz com a proximidade da inauguração do Casarão,  sua Casa. Por Ele a nossa coragem, dedicação.

 

Maria José Vettorazzi –

Presidente Instituto Frei Manuel Simón.

Membro da Academia Feminina Espírito-santense de Letras

 

“Quero ser pro meu irmão a imagem dele,/ Meu irmão que até nem tem/ O necessário pra ter paz…”  Padre Zezinho.